Tuesday, November 29, 2005

Atalhos inquietantes

A luz ali era facilitada pela escuridão.
O cônjuge da mutação deflagrou o sopro sem ar.
Contemplava o silêncio em repouso do fio cinzento que se deitava na desejada cama de lírios sem flor.
A conflagração do olhar no suor das palmas da mão, eclipse da destruição, surgia no horizonte imaginado, espreitando a escuridão da luz comida à colherada por mãos sem tacto.
Por labirínticos atalhos nos envias de regresso ao antes e por isso não sabemos já onde estamos no tempo.

Tuesday, November 22, 2005

Fecundações inquietantes

A alegria dos prazeres mais recentes são alucinações de loucas máquinas inventoras de erotismos mecânicos em festas nos hangares secretos das bases militares. Válvulas, pistões e outras peças abrem-se e fecham-se ao ritmo da passagem do óleo e combustivel num frenético gasto de energias em que sentidos blindados vêm ao de cima num prelúdio da carne queimada nas guerras de amanhã.Abdómens metálicos arrastam-se pelo solo quente disparando poder sobre aqueles que já demais o conheciam em ejaculações de aço e pólvora que esterelizam em vez de fecundar.Todo o espaço coberto de linhas que param na morte ou no vácuo.Corpos de metal despido de carne unem-se em orgias de pele rasgada e sangue em paisagens destruidas para o efeito.Balas mais que suficientes para exterminar a humanidade a tiro.( uma bala diz a outra: somos estéreis até termos fecundado de morte alguém)

Monday, November 14, 2005

A cisão do núcleo do átomo da palavra tempo

Primeiro há que avisar: a grande névoa em redor do pensamento actual não é um acaso.
O relógio esperava a total paragem do universo, o ponto em que o zero absoluto desintegrasse as correntes que movem o seu mecanismo.
Estava naquele local preparado para o esquecimento quando me lembrei.
Primeiro há que avisar que primeiro não faz sentido.
Uma chuva de ruído.
Em fim, o relógio continua esperando. Eu também.

Tuesday, November 08, 2005

O Relojoeiro (passado um ano)

Este weblog começou há um ano com este poema que agora volto a "postar":

Quanto ao primeiro, o relojoeiro, convém advertir que o seu exercício é mais espiritual do que manual. Nos desertos solitários, marcado por prazos infínitos, apostas areia.Nem jogo nem devoção. Movimentos sensuais, e no melhor e mais quieto da noite arrastam horas, minutos, segundos e produzem frutos.Tive o sabor espirituoso numa ampulheta. Girei o comando da luz e das trevas e embebi sentimentos no tempo.O relojoeiro subiu para cima do escadote e elevou-se acima das areias, olhou em todas as direcções e viu areia. Interpolações de alívio do seu centro até à fonte cristalina. Volve a mim a claridade divinatória, eco do sossego e silêncio da noite.Suavíssimo poisar dos dedos no mecanismo.Melodias vindas da subidíssima musica do tempo.Olhar de cego, infínito.

Wednesday, November 02, 2005

Atrás do muro

As palavras juntam-se e implodem formando o sempre incompleto poema da vida. Tentas sempre espreitar o muro do que vai ser e o mais que consegues é sentir. As promessas são o misterioso negrume das peças por encaixar, das descobertas por fazer, mas esse negrume pode também ser a luz emitida pelas mãos tremeluzentes da descoberta, vazias mas prontas a se encher.
Na leveza desses passos o peso dos segredos escondidos entorna-se nas águas desse mar de sonho.