Thursday, July 13, 2006

Sementeira na órbita errática

Quando finalmente conseguia pôr em movimento a cápsula de sementes electrónicas os amantes titânicos esmagaram milhões de formigas estelares no firmamento. Uma chuva de estrelas escorria do céu incendiado nas curvas dos corpos.
Sentia-se um satélite enquanto perdia a órbita, embora fizesse parte daquela espécie de acordo nunca estar perdido.
Um quilómetro era um festim. Expandia-se e descobria partes do que antes lhe tinha parecido insondável.
Numa esquina uma resposta. Cada resposta uma pergunta, cada pergunta uma pergunta.
Olhava as sementes aparecidas nos bolsos durante o caminho com um misto de estranheza e alegria: não tinha bolsos rotos, era o caminho que parecia perder coisas.

Tuesday, July 04, 2006

Inflexão

Apreendemos o coração do vento no meio do incompreensível beijo da estrada.
Voltamos as costas e regressamos aonde nunca tínhamos estado.
Sozinho, eu e a estrada.
Juntos, eu e a estrada.
Caminho que temos de merecer, caminho que nos tem de merecer.
Mexe na curva.
Ingestão de rectas.
Sistema binário.
Paredes rosa e rosas de plástico.
Animais que me digerem no colchão do esquecimento num hotel fechado: fechado por motivos de falência. Percevejos electrónicos mordem mordem mordem a pele que se ilumina como um néon a cada dentada.
Naqueles dias da falência os insectos da memória devoraram-me e iluminaram-me o corpo: a mente funcionava intermitentemente.
No problem.
Reiniciar.