Tuesday, September 26, 2006

Aplausos

Os planos de evasão estavam perdidos. Na continuação dos dias os panos estendidos na noite cobriam textos proibidos.
Oferecias presentes, passados e algo que se assemelhava ao futuro.
Duro era saber-nos presos num quadrado.
Sonho mastigado, cuspido.
Cansado de correr sem sair do mesmo lugar. Relógio gigante na torre da praça da imaginação mostrando os limites de cada um. Tempo curto. Nervos à flor da pele. Ramos de rosas e ponteiros.
Céu cinzento e possibilidade de aguaceiros.
Cansaço geral.
Belos artistas da hipnose de massas: fodem-nos a todos e ainda assim vivemos contentes e os aplaudimos.

Sunday, September 10, 2006

Último número

A imaginação acabou. Não sinto mais força para escrever. Os coelhos que andavam pela cartola da criação tinham-se extinto ou recusavam-se a sair. Por vezes o truque não era mais do que voltar a sacar o mesmo coelho vezes e vezes de seguida. Olhava para o fundo vazio do chapéu e perguntava-me: onde estaria a imaginação?Durante a noite sonhava palavras cheias de ilusionismo mas ao despertar um malvado encantador transformava-as em esquecimento.Escrevia mil vezes o mesmo poema como recurso final até que o poema sofria pequenas transformações de que mal me apercebia.Acordado sonhava números cheios de significado e um pequeno público que me escutava. Depois olhava para o vazio, fechava os olhos e voltava a enfiar a mão, como se dali ainda saltassem ideias!

Monday, September 04, 2006

Observação da pele

O firmamento observava o olho através dum telescópio até se encher de visões.
Chovia do chão para o céu engordando as nuvens até estas cairem no solo esmagando algumas flores cor de vinho.
De palavra no bolso corrias para o poema.
Despia a musa já nua e soletrava devagar todos os seus poros.
Frasco de respiração forte guardado nos nossos pulmões.
Cintilar dos olhos fechados.
De tempos a tempos um bando de aves levanta voo do coração.