Monday, November 08, 2004

O Relojoeiro

Quanto ao primeiro, o relojoeiro, convém advertir que o seu exercício é mais espiritual do que manual. Nos desertos solitários, marcado por prazos infínitos, apostas areia.
Nem jogo nem devoção. Movimentos sensuais, e no melhor e mais quieto da noite arrastam horas, minutos, segundos e produzem frutos.
Tive o sabor espirituoso numa ampulheta. Girei o comando da luz e das trevas e embebi sentimentos no tempo.
O relojoeiro subiu para cima do escadote e elevou-se acima das areias, olhou em todas as direcções e viu areia. Interpolações de alívio do seu centro até à fonte cristalina. Volve a mim a claridade divinatória, eco do sossego e silêncio da noite.
Suavíssimo poisar dos dedos no mecanismo.
Melodias vindas da subidíssima musica do tempo.
Olhar de cego, infínito.

1 Comments:

Anonymous Anonymous said...

Como é possível que niguém tenha comentado este? É o meu preferido. O tempo parece-me o maior enigma que nos rodeia. Por isso tento matá-lo ou torná-lo doce, lúdico. A segunda alternativa é, de longe, a mais prazenteira. Desse exercício jorram fontes de rica água fresca como este poema.

7:52 AM  

Post a Comment

<< Home