Monday, April 25, 2005

O sentido

Quando nos separamos vi-te ser engolida pelas paredes brancas de cal. Nem olhas-te para trás decidida que estavas a afastares-te de mim.
O sorriso da Lua cheia pareceu-me escarninho e as corujas piavam até ao meu arrepio.
Misturada na água tomei uma dose de esquecimento. Mas não foi suficiente.
Agora só via a rua sem a tua presença, os candeeiros e não a Lua. Afinal esquecer era uma necessidade que a razão impunha ao coração e a que este sem se mover repudiava.
Afundada na refulgente calçada a razão fazia desabrochar escuras lágrimas de basalto.
O hiante coração fazia rolar pétreas procelas dentro do meu peito, fazendo-me perder o sentido do que é um poema.

20 Comments:

Blogger Monalisa said...

Muito " dark " este texto. Bem escrito, com imagens invulgares. Beijo e boa semana

3:45 PM  
Anonymous Anonymous said...

Para citar o que mais gostei, teria que citar tudo... as lágrimas de basalto, as corujas que piam até ao teu esquecimento e a mistura na água de uma dose de esquecimento... é lindíssima a forma como expões o que sentes. Beijo grande :)

11:59 PM  
Blogger BlankPage said...

É a presença ausente dela que atormenta ou o ela querer esconder-se? Pode ser só Ela...Sem ela não existiam essas dúvidas...

Foi um dos teus melhores poemas..um dos que me tokou mais até agora..

5:41 AM  
Blogger Luís Filipe C.T.Coutinho said...

Quando olhas-te para trás apenas sobras...


abraço

8:28 AM  
Blogger Catarina Santiago Costa said...

Meu querido,
Vou ter esperança que tenha sido só um poema e não realidade. Porque prefiro acreditar na beleza do que nas tristezas de um coração que sofre.
Beijos e obrigada

10:13 AM  
Blogger SL said...

Vou olhar para as tuas palavras como se fossem apenas espelhos da beleza que tens dentro...não quero pensar na tua dor...nem no sentido que pode ter além de toda a compreensão que possa ter.
JiNHOS

10:35 AM  
Anonymous Anonymous said...

andré poco a poco voy leyendo tus poemas que cada vez entiendo mas.. y mas..

Me gustan

Un beso

4:53 PM  
Blogger isa xana said...

podes perder o sentido do que é um poema, mas saberás sempre fazê-lo com as tuas palavras.

prefiro ver isto como um texto somente do que pensar que é um reflexo da dor que possas sentir

beijito

6:28 PM  
Anonymous Anonymous said...

e quando ao tomarmos o esquecimento dos outros nos esquecemos de nós mesmos?

3:22 AM  
Blogger Alphonse Zheimer said...

Realidade ou ficção, você é um jovem maestro da poesía. Obrigado amigo André.

8:26 AM  
Anonymous Anonymous said...

Belos textos. Parabéns pelo blog, é muito interessante!

8:54 AM  
Blogger lique said...

Tu não perdes nunca o sentido do que é um poema. O teu texto é triste, de facto, mas belo e recheado de imagens muito bem conseguidas. Beijos

3:34 PM  
Anonymous Anonymous said...

as memorias são reavivadas com pequenos nadas...e isso é o que nos deixa de rastos...isso e não querer esquecer!

as lágrimas podem ser uma forma de alivio, um acalmar da alma...um sufoco de sentimentos pode asfixiar qualquer um...

bom texto o teu! :)

7:38 PM  
Blogger Madalena said...

de passagem não resisti a vir ler-te.

Saio contente por tê-lo feito ainda que com um aperto no peito que já conheço. De onde?

:) Bj.

7:51 AM  
Blogger Fata Morgana said...

Eu acredito mais na decisão de quem se volta para trás de fugida. Parece-se mais com uma decisão tomada, até porque geralmente custa. No fim de um amor ainda há sempre muito amor.
Quando não nos voltamos podemos não estar resolvidos, ter lágrimas para esconder, tantas coisas...
De qualquer modo, a maior beleza do texto está no olhar com que viste esta cena (real ou imaginada). A noite e a rua ficaram cheios de pedaços de sentimentos. Gostei muito.
Deixo-te beijos

8:50 AM  
Anonymous Anonymous said...

Hermoso como escribes mi querido amigo , el dia que tengas msn agregame a tu mail por favor me encantaria charlar con vos un beso

3:22 PM  
Blogger MIN said...

Onde é que se compram doses de esquecimento? Tb estava a precisar!
Agora fora de brincadeiras, muito bonito. Parabéns!

3:02 AM  
Anonymous Anonymous said...

Belo poema para quem lhe perdeu o sentido!

:)

Bj

7:33 AM  
Blogger Non said...

Já é a 3ª vez que o leio...

:)

7:34 AM  
Anonymous Anonymous said...

A tua imagética é rara e sublime. Desperta os sentidos e faz-me pensar de maneira diversa nas palavras, no sentido que fazem juntas, nos caminhos que traçam dentro do caos e na perturbação que sublimam até ao último sopro da terra que fertilizam, em respirações cavas de emoção.
Continuarei a passar por aqui, serás um dos meus lugares de passagem, de paragem também, de reflexão, de descoberta. Obrigada por partilhares connosco o teu universo, já fazes parte do meu.

9:15 AM  

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