Friday, January 21, 2005

Gula espiritual

Pretendo guloseimas.
Dois olhos olham-me e perdem-se em mim.
Desejo um doce.
Caramba, tenho que levar comigo um par de olhos perdidos?
Discintonizo a pastelaria atiçando a gula.
É-me azeda qualquer obediência e acabo por me tornar num mau aprendiz colhendo flores para oferecer na pastelaria.
A senhora sorri para um cravo, uma menina engole um bolo inteiro, de uma vez. Toda a gente diz mentiras sem querer, talvez baralhados pela doçaria.
A conversa sobe de tom, ninguem chega à conclusão sobre o que é bom.
Tirem-lhe os bolos e vão ver!
Pretendo guloseimas.
Desejo um doce.

Thursday, January 20, 2005

A seca

Um rebanho de cabras pasta no deserto.
Os animais sequiosos fazem de uma pedra o final das suas sedes.
Levanta-se uma nuvem de pó. As cabras ficam sujas, assustadas. Nesse pó recordam os seus antecessores titânicos que com a sua gula gigante deixaram os campos nus.
As cabras comem mais areia, bebem mais rochas, a sua gula é fome e sede.

Wednesday, January 19, 2005

A menina e o mundo

Uma menina divertia-se a atirar o mundo ao ar.
Bolas de sabão ao seu redor faziam os habitantes do planeta sorrir perdendo pouco a pouco
o medo de viajarem sobre a esfera gigante onde viviam.
Estavamos deitados no campo a olhar o céu.
O universo era um conto infantil contado pela voz de um louco.
"Tenho de te dar a mão."-"Não posso aceitar, a tua mão e a minha são rios que acabam sempre por se encontrar."
O jardineiro da Lua semeia plantas cujas flores são sonhos.
"Há adultos cujas sementeiras são sonhos." - "Vês, as nossas mãos acabaram por se encontrar."
A menina ri, ri, ri com o planeta nas mãos.

Friday, January 14, 2005

Geada ( poema bucólico)

Com mãos prateadas cobres o campo de gelo
combinando assim as cores geladas
oferecendo prazer aos desejos dos olhos
E as laranjas de fina camada rodeadas
com a luz do Sol quedam-se doiradas
e quando com o calor desse escudo despojadas
oferecem doce refresco e sumo
e das linguas que as provam assim
não saem mais palavras amargas

Tuesday, January 11, 2005

Jogo de luz

A luz que denunciaria
o brilho da tua pele
e a chegada do dia
mostra o lugar vazio
e a noite intercede
pela tua presença
de pele azul

O Sol dissolve-te nos raios
que vejo entrar pela janela
e a Lua favorece-te nos lances
dados dardos
E és mais infinita

Na brancura da aurora
fujo para o sol
os nossos sexos afastam-se
gritam enloquecidos
por Selene

De novo tempo

Artífice do tempo
observo o lento ritmo da natureza,
formulando as leis de causas obscuras
fundo de folhas outonais em queda
que me despe para o frio invernal


O invísivel mostra por vezes
um fundo de modificações
que longe da vista não chega ao assombro,
assim me assomo
ao leve transparente