Sunday, December 17, 2006

Vozes de vento

As mãos eram a boca, os dedos em movimento sobre o papel e a pele, a voz .

As palavras vivas, condição necessária à criação, agitavam-se, rodopiavam num furor dionisíaco, ganhavam vida

Nem as mãos, nem a boca, nem os dedos, nem as palavras, eram mais meus.

Wednesday, December 06, 2006

Salto no vazio

Salta a janela à noite para se montar no fumo que a boca lança ao céu gelado.

Constelações agitam-se no ar para oferecer ramos de flores.

Sombra de um velho arbusto num arco pintado de branco.

Cenário com candeeiro e algumas árvores.

Grilo gritado no chão gelado.

Brincadeira fora do horário do mundo.

Chego atrasado à linha de vento que salta de árvore em árvore por entre os beijos da aurora.

Adivinhação, que é outra forma de conspirar.

Suspirar no meio dos destroços duma civilização ainda por vir e já condenada ao esquecimento.

Pensamento esquecido na memória infalível.

Falência das palavras e dos gestos.

Salto da janela da noite montado no lançamento do perfume do ar que ainda não respirei.

Irrespiráveis prisões do mundo.

Aberta a boca ao voar.